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HISTÓRIA DA SUB-AGÊNCIA DA LIGA DOS COMBATENTES DA GRANDE GUERRA E DO NÚCLEO DE ABRANTES 1923/2005

José Manuel d'Oliveira Vieira
(Autor Artigos publicados nos "Jornais de Alferrarede" nºs 223 a 230)

Capítulo IV
SÓCIOS DO NÚCLEO
O Núcleo da Liga dos Combatentes de Abrantes à data de Julho de 2005 tinha inscrito: oitocentos e setenta sócios combatentes, setenta e cinco efectivos, trinta e nove extraordinários, vinte e três apoiantes, um de Honra e um de Mérito, no total 1009 sócios.
ABRANTES E A SOCIEDADE CASTRENSE
A verdadeira relação dos Abrantinos com a sociedade Castrense, remonta ao século dezassete, vindo dessa data a união e tradições que ainda hoje se mantêm com os militares. Abrantes albergou as seguintes unidades militares: em 1798, parte da Legião do Marquês de Alorna; em 1809, dois regimentos de milícias; em 1810, um hospital militar; em 1813, Infantaria n.º 20; em 1833, um hospital militar; em 1836, Caçadores n.º 30; em 1841, Infantaria n.º 23; em 1844, Caçadores n.º 8; em 1851, Caçadores n.º 5 e Batalhão de Sapadores; em 1852, Caçadores n.º 6; em 1854, Infantaria n.º 11; em 1876, parte da Brigada de Artilharia de Montanha; em 1888, Caçadores n.º 8; em 1899, 12º Batalhão de Infantaria n.º 22 e desde 1918 o Regimento de Infantaria n.º 2, sendo esta a unidade que à mais tempo permaneceu em Abrantes.
Não esquecendo as Legiões, os factos falam por si. Foram os expedicionários que serviram a Pátria, em França, África e Cabo Verde e aqui constituíram família os responsáveis pela existência da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra e de uma parte importante do povoamento de Abrantes.
MAQUETAS – MONUMENTOS
1º Projecto – O Monumento a erigir no Forte de S Pedro é uma grandiosa obra dos artistas Ruy Roque Gameiro, escultor, e Francisco Nogueira e E. Korrodi, arquitectos, foi classificada como a primeira do nosso país, exceptuando a que se encontra na Av. da Liberdade em Lisboa. O Diário de Lisboa, na época, incumbiu o seu redactor especializado na crítica de artes plásticas de fazer um artigo para o jornal, onde escreveu o seguinte: “Trata-se de uma obra notável, como simbolismo, como construção e como técnica. Ruy Roque Gameiro, aproximando-se da maneira de Bourdelle – gigantesca, planos simples, formas expressivas – interpretou em três figuras a ideia do monumento. A Pátria, altiva, fortíssima, de pupilas serenas e indómitas, invencível de energia, ao nível da estatuária grega, coroando, com a mão esquerda, um gladiador, meio ajoelhado e torcido a seus pés, apoiando-se a um escudo e brandindo uma espada curta. Esta figura, colocada, ao lado esquerdo da Pátria é, talvez, a do herói que não se rende, que mesmo na morte, luta ainda, coroando assim a vitória com sacrifício da vida. Do outro lado, à direita da Pátria, um soldado encostado a ela, mascarado para os gases, quase um fantasma, que marcha em frente, numa linha recta para o inimigo, despejando os tiros da espingarda.
“Tendo por pedestal o Forte de S Pedro situação admirável, dominando um panorama lindíssimo, qual sentinela vigilante de maravilhas sem conto, ficará sem duvida um dos melhores do País
Quem passe no caminho de ferro, quer na linha do Leste, quer na da Beira Baixa, verá como o concelho de Abrantes soube prestar homenagem aos seus Mortos da Guerra, porque forte e monumento vistos assim à distância, harmonizam-se num conjunto de grandiosidade que quem pela primeira vez os contemple há-de forçosamente soltar uma exclamação.
O monumento assentará numa base de 64 metros quadrados e terá 20 metros de altura, encimado por uma esfera armilar, em cristal, com um metro de diâmetro, que à noite será iluminado com foco eléctrico de grande intensidade. Sobre o pedestal, a figura da Pátria, com 4,50 m de altura, empunhando uma coroa de louros e rodeada por quatro soldados com 2 metros de altura.
A base será de granito rosa e a coluna também em granito mas escuro, tanto um como outro da região e que se encontra em abundância desde o Cabeço do Caneiro ao Tramagal. As figuras serão de cimento armado, com um preparado que lhes dará a aparência de bronze” (JA1497).
A concepção de Ruy Roque Gameiro é extraordinária. Tem volumes sobre-humanos, imponência indestrutível, grandeza ciclópica. É propositadamente rude, exagerada de volumes, sóbria como o exige o material onde foi esculpida: o cimento que endurece rápido, e só os grandes cinzéis podem trabalhar”.
Pelo seu elevado valor não foi possível executá-lo.
Não tendo sido esta a obra escolhida, ficou porém a maqueta no AHCA (Arquivo Histórico do Concelho de Abrantes) (fig. 18/18 a/18 b).

2º Projecto – “...A concepção do conjunto, grandioso, foi de uma rara felicidade , de para o seu autor Sr. Ruy Roque Gameiro, e a execução se os nossos louvores não são absolutos por, discordarmos num ou noutro pormenor, nem por isso deixou de nos agradar superiormente. Não será uma obra-prima mas é uma bela obra de escultura que não destoaria em qualquer cidade da Europa, e que honra sobremaneira os seus autores.
O primeiro senão que opomos respeita ao material empregado, do que ninguém tem culpa; é pena que tanta arte fosse desperdiçada numa obra de cimento armado e não pedra; infelizmente seu custo atingiria uma importância tal que era absolutamente impossível executa-la. Temos que nos curvar perante este argumento.
A figura do soldado está perfeita, perfeitíssima até; quando supúnhamos que iríamos encontrar um esboço apenas, mais uma figura adivinhada do que vista, uma figura que impressionasse mais o cérebro do que os olhos, surge-nos uma estátua que só por si mostra a grande categoria do seu autor.
É uma obra perfeita: posição, os pormenores do fardamento, máscara, mochila, etc, tudo é perfeita, harmónica, bela! Os safões, as grevas e o pouco que se vê do calção têm uma verdade dificilmente ultrapassável.
Mal compreendemos que numa figura tão bem estudada a espingarda não tenha baioneta; possivelmente, por ser uma peça esculpida à parte, teria havido esquecimento ao serem enviados os diferentes blocos que compõem o monumento, mas se esquecimento houve urge remedia-lo porque se traduz num erro.
O pelico, na parte sobranceira aos ombros está um pouco acanhado, talvez ficasse mais elegante, se um pelico é susceptível de elegância, se fosse um pouco maior. Bem sabemos que a elegância era cousa de nenhuma monta para quem estava nas trincheiras e se ha pelicos largos tambem os ha acanhados...
A figura do centro, embora sem grande vinco agrada tambem sem reservas, tem magestade, força, serenidade.
A terceira figura tem, quanto a nós, um pouco de tudo: de muitissimo bom; de bom e até um pouco de inferior.
O tronco, pescoço, as pernas e os braços vistos isoladamente são de uma extraordinaria perfeição, superior talvês ao soldado; a musculatura das pernas, principalmente das côxas, e dos braços dão uma enorme vida e relevo á figura; os tendões do pescoço e as costelas estão maravilhosamente esculpidos.
Analisadas isoladamente as diferentes partes que compõem esta figura temos a impressão, de que foi cuidadosissimamente executada por um grande artista.
Esta figura, a que não falta a nota realista, seria a melhor do conjunto se a posição não fosse tão contrafeita e errada até.
Contrafeita, por nada natural, a posição do braço esquerdo que, embora num tronco torcido, leva a mão muito para dentro da figura, pelo lado oposto.
A posição do braço, tal como está não tem significação. As atitudes em que se ajoelha são inumeráveis, sem duvida, mas ha posições naturais e outras que o não são, embora todas elas sejam possíveis. As atitudes contrafeitas por via de regra devem simbolisar qualquer sentimento ou esforço, o que se não dá no caso presente.
Finalmente só um atleta excepcionalmente conformado pode tomar a atitude da figura: ajoelhado, assentar as nádegas na parte interior dos pés; esta posição pode ser tomada por crianças ou por homens serpentes, nunca por um atleta ou mesmo por pessoa normalmente conformada, porque a musculatura da coxa e da perna a isso se opõe.
Propositadamente quizemos com verdade dar aos nossos leitores a impressão causada pelas figuras, dizendo bem daquilo que nos parecia bom ou muito bom e dizendo mal no que nos parecia um pouco inferior; não louvamos incondicionalmente a despeito do enorme desejo de que o monumento seja digno da cidade; e neste ponto estejamos descansados: o artista Roque Gameiro produziu uma obra que ficaria muito bem em qualquer grande cidade da Europa....” (JA1578).
Este novo anteprojecto foi mais simples, mais barato e possível de concretizar. O monumento encontra-se na Praça da República e a maqueta no AHCA (fig. 19/19 a).

SÓCIOS BENEMÉRITOS E DE HONRA, DA L.C.G.G. NA ÁREA DE ABRANTES
Devido à Cruzada de bem fazer, dando espectáculos de beneficência de toda a ordem, a favor das viúvas e órfãos dos Combatentes, a direcção da Sub-Agência de Abrantes conferiu, em 1933, ao já extinto Grémio de Instrução Musical de Abrantes o diploma de “Sócio Benemérito”.
Também na mesma data, devido aos serviços prestados que consistiam em consultas e tratamentos clínicos gratuitos, operações cirúrgicas gratuitas ou com insignificante remuneração, pagamento de medicamentos, fornecimento de leite e outros géneros aos mais necessitados, resolveu a direcção conferir ao já falecido Dr. João José Alves Mineiro, do Tramagal, o diploma de “Sócio Benemérito”.
Igualmente, pela notável arte que cultiva, pela propaganda que desenvolve em prol da nossa terra, promovendo numerosos espectáculos anualmente a favor da Liga dos Combatentes, ao Orfeão de Abrantes, instituição fundada em 1929, é conferido, em 6 de Novembro de 1933, o diploma de “Sócio Benemérito” (fig. 20).

De acordo com o Estatuto, Regulamento Geral e Funcionamento da Liga dos Combatentes, está isento de pagamento de quotas e quaisquer outros encargos, podendo, no entanto, prestar contribuições à Liga. Como sócio Benemérito pessoa colectiva pode exercer o seu direito de representação e de reclamação, através de um membro seu ou mandatário para cada caso devidamente credenciado.
A 4 de Dezembro de 1933, a Direcção da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes propôs, à Junta Central, que (devido aos benefícios recebidos do Município de Abrantes, entre os quais avulta a cedência no cemitério da cidade de um talhão para as sepulturas dos combatentes falecidos, a contribuição de 500$00 para auxílio do estandarte e o fornecimento gratuito de energia eléctrica e de piquetes de bombeiros para os diversos espectáculos realizados em benefício do seu cofre de pensões) concedesse à Câmara Municipal de Abrantes o “Diploma de Sócio de Honra”, o que veio a acontecer em 20 de Janeiro de 1934 (fig. 21).

CAPÍTULO V

NOMES DE RUAS E LARGOS DEDICADOS AOS COMBATENTES DA GRANDE GUERRA NO CONCELHO DE ABRANTES
Após o Armistício, o entusiasmo e solidariedade do povo do Concelho de Abrantes e limítrofes para com os combatentes da Grande Guerra, levou a Sub-Agência de Abrantes a solicitar que as juntas de freguesia atribuíssem na sua localidade o nome de “Rua dos Combatentes da Grande Guerra”.
Em 1932, a gerência da Liga, faz sair um comunicado onde em tom crítico diz: “Poucas foram as Juntas que deram a sua adesão a essa manifestação de respeito pela memória dos seus conterrâneos que tombaram no campo de honra. Seria interessante e da maior oportunidade que as restantes juntas de freguesia conseguissem, para a aldeia, sua sede, indispensável autorização, de forma a que, no próximo aniversário do armistício, dia 11 de Novembro, em qualquer das suas ruas fossem inauguradas as respectivas placas toponímicas. Tendo assim lugar a prestação duma tão justa homenagem”.
Abrantes – A única referência a uma rua de Abrantes, dedicada aos Combatentes da Grande Guerra, aparece no livro de Toponímia Abrantina e diz o seguinte: “em sessão de 14 de Outubro de 1926 foi presente à Câmara Municipal de Abrantes um requerimento da direcção-geral da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, no qual era solicitado que a uma das ruas de Abrantes fosse atribuída a designação de Combatentes da Grande Guerra, tendo a Câmara deliberado dar conhecimento do requerimento à comissão incumbida de estudar a nova nomenclatura das ruas da cidade, sendo satisfeito o pedido em 11 de Maio do ano seguinte”.
Porém, segundo Eduardo Campos, numa carta que me endereçou em 24 de Outubro de 2003, informa da decisão da C.M.A. ter sido tomada em 25 de Março de 1996, quarenta anos depois (fig. 22).

A ser assim, tal decisão pecou por tardia, quando, em 1928, o Jornal de Abrantes n.º 1427 de 22 de Janeiro, animado pelo espírito crítico mas construtivo que reinava na época dizia: “Na avenida Defensores Chaves que a Câmara deveria ter chamado Avenida dos Combatentes da Grande Guerra e a que o publico continua a chamar Avenida das Primas, estão-se abrindo duas ruas que vão dar ao mercado”.
Tramagal – Não havendo uma certeza absoluta do dia da sua inauguração, a Direcção da Liga de Abrantes tomou conhecimento, no mês de Janeiro de 1934, de que a Câmara Municipal de Abrantes decidiu dar o nome de Largo dos Combatentes da Grande Guerra, ao Largo conhecido pelo povo de “Ribeiro Seco” no Tramagal. Do facto resolveu a Direcção agradecer à C.M.A. (fig. 23/23 a).

Rio de Moinhos – Sensibilizada com o pedido da Sub-Agência de Abrantes da L.C.G.G., a Junta de Freguesia de Rio de Moinhos solicitou autorização, em 1930, para dar o nome de Rua dos Combatentes da Grande Guerra a uma das suas ruas. Como curiosidade refira-se que esta rua ostenta placas (recentes) em ambos os extremos da mesma, uma com a designação de “Rua dos Combatentes” e outra como Rua dos Combatentes da Grande Guerra o que efectivamente é, de acordo com a lista do Código Postal (fig. 24/24 a).

Pego – Também esta freguesia possui uma rua dedicada aos C.G.G. Durante o levantamento da existência real das ruas, verificou-se que devido à recuperação das casas antigas, as placas toponímicas foram retiradas. Contactada a Junta de Freguesia, em 19 de Novembro de 2003, a mesma endereçou, em 27 de Janeiro de 2004, uma carta ao Núcleo da L. C. de Abrantes informando de que as placas toponímicas tinham aparecido. Porque as mesmas se encontram na Junta de Freguesia e não nos prédios restaurados, optei por mostrar uma das placas e a casa onde a mesma devia estar colocada (fig. 25/25 a). Bemposta – Esta freguesia do concelho de Abrantes possui, sem dúvida alguma, a mais bonita rua dedicada aos Combatentes da Grande Guerra. Logo no início, encontra-se em local bem visível a placa que designa o nome da rua, terminando esta junto à Igreja. Tal como as freguesias com toponímia dedicada aos Combatentes, também esta Freguesia consegue resistir à tentativa de mudar a designação das ruas, perpetuando desta forma os seus heróis (fig. 26/26 a).S. Facundo – Foi provavelmente a primeira freguesia do concelho a ter uma rua dedicada aos C.G.G. Esta freguesia do concelho de Abrantes, no dia 20 de Março de 1930, promoveu uma homenagem aos C.G.G., onde assistiram civis e militares de Abrantes e representantes da Câmara e Sub-Agência da Liga dos Combatentes. Do programa constou a romagem ao cemitério, onde foi colocada uma lápide na campa do combatente António Chambel, sendo descerrada uma placa toponímica numa das ruas da aldeia com o nome de Rua dos Combatentes da Grande Guerra. Ao contrário de outras freguesias, esta, após o restauro das suas casas antigas, manteve as placas nos locais originais (fig. 27/27 a).LOCALIDADES DE OUTROS CONCELHOS COM NOMES DE RUAS E LARGOS DEDICADOS AOS C.G.G. E DO ULTRAMAR – ÁREA DE ACÇÃO DO NÚCLEO DE ABRANTES
Sardoal – Av. Heróis do Ultramar.
Mação – Largo dos Combatentes da Grande Guerra, com um memorial dedicado aos heróis do seu Concelho.
Constância – Rua dos Combatentes (Santa Margarida da Coutada)
Rua dos Combatentes (Constância Sul)
Rua dos Combatentes (Malpique)
Travessa dos Combatentes (Malpique)
Ponte de Sor – Rua dos Combatentes da Grande Guerra (Ponte de Sor)
Travessa dos Combatentes (Foros de Arrão)
Travessa dos Combatentes (Montargil)Rua Heróis do Ultramar (Montargil)

CAPÍTULO VI

TALHÃO DO COMBATENTE
A Sub-Agência de Abrantes, para dar conta da sua gerência do ano social de 1931/1932, emite o seguinte comunicado:
“As campas dos combatentes, existentes no cemitério desta Cidade, não tinham qualquer indicação especial, como não havia talhão especialmente destinados aos seus enterramentos. A fim de obstar à continuação desse estado de coisas, mandou a Direcção fazer umas cruzes especiais, cabendo aqui dizer que foram graciosamente oferecidas pelo Grupo de Artilharia n.º 24, que foram colocadas nas campas existentes. Enquanto ao talhão, a Câmara Municipal de Abrantes acedeu a destinar um talhão para as sepulturas dos combatentes que, de futuro, venham a falecer” (fig. 28).

PRIMEIRO MORTO
Olhei a sua face. (Era ao sol posto),
Adormecera em derradeiro sonno.
E tão novito, que tristeza! O rôsto
Tinha a côr da folhagem no outôno.

Tombara como heroi. Um estilhaço
Abrira a chaga no seu peito forte.
Cruzara ainda os braços, num abraço
Em que estreitasse, à despedida, a Morte.

Ficaria p’ra sempre em terra estranha!
E o olhar revelava a dôr tamanha
De não sentir, para beija-lo, alguem!

Olhei-o ainda uma vez: - E, que tortura!
Os seus lábios, num rictus de amargura,
Pareciam gemer: - «Ó minha mãe!»
Um oficial do C.E.P.


CURIOSIDADES

EMBLEMA DO SPORT LISBOA E BENFICA
Na base do Monumento aos mortos GG 1914/1918, encontra-se a placa (fig. 29), com os seguintes dizeres:

“DIA DO BENFICA EM ABRANTES
Homenagem da C.A.
Ao
S.L. e Benfica 20/6/1948”

NOTA: Durante o restauro do Monumento, a “PLACA” acima referida foi retirada do local. No seu lugar foi colocada uma outra, indicando a data e quem fez o restauro.
A homenagem prestada pelo Sporting Lisboa e Benfica no mês de Junho de 1948, aos Combatentes da Grande Guerra e à população de Abrantes nunca mais será recordada. Não tivesse esta história sido escrita alguns anos antes do restauro do Monumento, jamais alguém saberia que os Combatentes da Grande Guerra foram homenageados pelo Sporting Lisboa e Benfica.
Nota: Veja a história em: “AQUI ACABOU A HISTÓRIA…”
CAIXAS DE FÓSFOROS “OS COMBATENTES
Em 1930, a Fábrica da Companhia Lusitana de fósforos colocou à venda uma marca de fósforos ao qual deu o nome de “Os Combatentes”, da qual a Liga dos Combatentes da Grande Guerra cobrava $05 por caixa, tendo como objectivo único as vítimas de guerra (Fig. 29 a).

PATRULHA DOS COMBATENTES
ABRANTES – Chegou a esta cidade, às 10H30 do dia 16 de Junho de 1935, a Patrulha dos Combatentes. Constituída por três combatentes da G.G., iniciaram a volta a Portugal a pé, no dia 9 de Abril. Tendo como objectivo visitar todos os Núcleos da L.C.G.G., e depor um ramo de flores nos monumentos erectos no País à memória dos que nela tombaram. Foram hóspedes da L.C.G.G. de Abrantes e pernoitaram no Casal do Telhado, no Bivaque de Tropas, tendo assistido a um exercício de fogos reais. A Patrulha, após 5 dias de merecido descanso, retirou-se no dia 21 em direcção à Barquinha, levando da nossa cidade as melhores das impressões (fig. 30).

CUSTOS COM O PROJECTO DO MONUMENTO AOS MORTOS DA G.G. 1914/1918
ABRANTES - Tendo-se demitido a Comissão do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, a mesma tornou públicas as contas desde o início até 31 de Dezembro de 1930 e que foram as seguintes: Despesas com o projecto do monumento 50.000$10 e foram pagos ao arquitecto Francisco Nogueira em três prestações de 16.666$70. A primeira foi paga em 14 de Agosto de 1929, a segunda em 13 de Dezembro do mesmo ano e a terceira e última prestação em 17 de Novembro de 1930.
MONUMENTOS E MEMORIAIS DE HOMENAGEM AO COMBATENTE DO ULTRAMAR
A Liga dos Combatentes de Abrantes tem inscrito neste Núcleo sócios dos concelhos de Constância, Gavião, Mação, Ponte de Sôr e Vila de Rei, entre outros. No entanto, para este trabalho apenas se limitou a explorar a área do concelho de Abrantes, deixando para posterior pesquisa outros monumentos que porventura possam existir.
Assim, no Concelho de Abrantes foram inventariados os monumentos e memoriais:
Regimento de Infantaria N.º 2 – O monumento da fig. 31, em granito e bronze, foi inaugurado em 1959, tendo inscrito os nomes dos mortos do R.I. N.º 2 que tombaram pela Pátria na Guerra 1914/1918, tal como se verifica junto ao lampadário. Ao monumento foram acrescentadas as partes laterais no mesmo tipo de pedra e placas de bronze, vendo-se num dos lados as inscrições das províncias ultramarinas de Angola/Cabo Verde/Guiné e Moçambique e no outro lado a frase: “AOS MORTOS DO ULTRAMAR”. Estas partes laterais foram inauguradas em 30 de Julho de 1970.

O monumento da fig. 32 também foi inaugurado na mesma data. Representa as Guerras Peninsulares onde o RI 2 esteve envolvido. Após o 25 de Abril de 1974, foi acrescentado ao lado direito do mesmo o local onde o RI 2 esteve envolvido com as suas forças expedicionárias.

Por extinção do BC5, o RI 2 herdou as tradições e condecorações do mesmo. Por esse facto, vindas do ex-Batalhão de Caçadores 5 – Lisboa, encontram-se à entrada do Quartel as placas memoriais dos Combatentes falecidos na Guerra do Ultramar, (fig. 33/33 a).

NOTA: Com a saída do R.I. Nº 2 de Abrantes e a colocação da Escola Prática de Cavalaria nesta cidade, é provável as placas já não se encontrarem no lugar original.

ABRANTES INAUGURA A SUA PRAÇA DE TOUROS (8 DE JULHO DE 1900)

Por José Manuel d’Oliveira Vieira
(Autor Artigo "Jornal de Alferrarede" Junho2007)
À pergunta de um aficionado da festa brava, se conhecia a história da “Praça de Touros de Abrantes”, disse saber o local onde se encontrava e o que resta das suas bancadas.
Achando o tema interessante, até porque sabia onde encontrar alguma matéria e fotos, decidi escrever este artigo, procurando juntar num único bloco o que de mais interessante encontrei sobre o que foi a “Praça de Abrantes”.
As corridas de touros em Abrantes, já não eram novidade, aquando da construção da “Praça” nesta “Vila” em 1900.
Sobre o assunto (Século XVI/XVII), o Historiado, Professor Doutor Joaquim Candeias da Silva, diz no seu livro “Abrantes, A Vila e o seu termo no tempo dos Filipes (1580-1640): “…que embora não exclusiva desta paróquia patrocinava as festas do Espírito Santo (ou Pentecostes) e as touradas que se realizavam nesse dia (a).”
Alguns cartazes anteriores a 1900 chegaram até aos nossos dias. Como curiosidade, refira-se um de 1877 que teve dupla intenção. A Tourada foi feita em benefício do “Monte-Pio Abrantino” e serviu para “solenizar a entrada das baterias de Artilharia nº 2 em Abrantes” (fig. 1).
Nas fotos de 1896 (fig. 2/3) é possível ver com alguma nitidez o “Rossio”, actual Jardim da Republica, local onde se realizavam as touradas, vendo-se na parte superior da fotografia o telhado do Convento de S. Domingos, hoje Biblioteca Municipal António Botto. Encontrar em Abrantes relíquias relacionadas com a “Praça de Touros” não foi fácil. No entanto, em casa do senhor José Alberty, empresário e proprietário da “Quinta de Coalhos, Turismo de Habitação”, fomos encontrar o cartaz original da inauguração da “Praça” em 8 de Julho de 1900 (fig.4), bem como as fotografias dos fundadores da “arena de Abrantes”, António e João Franco (fig. 5/6). A ideia de construir uma Praça de Touros na Vila, já há muito era falado por João Soares, Luís de Almeida, Francisco Burguete e Emílio Segurado, quando no dia de S. João (24 de Junho de 1898), no Campo de exercícios do Exército, no Vale de Roubam, o Montepio Abrantino realizou uma corrida de bicicletas.
Entre as mais de duas mil pessoas que assistiam ao evento patrocinado pelo Montepio Abrantino, estavam, António Franco e António de Almeida Frazão. Este grupo de amigos, vendo tão grande aglomerado de populares a assistir aos festejos, ali decidiu avançar para a construção de uma Praça de Touros em Abrantes.
Há noite, no Jardim do Castelo, nas grandes Festas de S. João realizadas a favor do Montepio Abrantino, António Apolinário foi convidado a fazer parte da empresa.
Não perder tempo, era uma das tarefas deste grupo de amigos. Assim, às 6 da manhã, do dia 18 de Julho de 1898, reuniram-se em Santo António, local escolhido para a construção da Praça, os órgãos de comunicação, “O Abrantes”, “Riomoinhense” correspondente de “O Século”, e ainda os senhores Dr. Ramiro Guedes, José de Jesus, Egídio Salgueiro, Dr. Correia Campos, Dr. Ludgero Moreira e muitos curiosos.
Feita a escritura da constituição da empresa no dia 3 de Agosto do mesmo ano e fixado o fundo social em 6.000$000 réis, foi comprado a D. Ana Olímpio Vaz da Silva Rosa, um terreno com 5.000 metros quadrados.
A empreitada para a construção e execução dos trabalhos de alvenaria, foram, por escritura pública, no dia 16 de Setembro, dados a José Gadanho Serra.
Garantir que as muralhas de Santo António, não seriam danificadas foi o passo seguinte. Para isso, a Inspecção de Enge­nharia, representada por Avelar Machado, o Ministério da Guerra por M. J. Góis e a empresa por António Apolinário, assinaram uma escritura pública cm que o Governo concedia à dita empre­sa, licença para construir a Pra­ça a 130 metros de distância das referidas muralhas (fig. 7).António de Almeida Frazão, após a morte do seu filho, deixa a sociedade da empresa, no dia 15 de Maio de 1899, juntamente com António Apolinário. Os direitos da Praça são transferidos para os irmãos: João Franco e António Franco que a expensas suas e muitos sacrifícios, conseguiram dar aos aficionados e à Vila de Abrantes a muito desejada Praça de Touros.
Entre a compra do terreno e a construção da “Praça”, muita polémica houve: pegadilhas políticas, suspensão e reconstrução das obras, liquidação e dissolução da empresa. Tudo isto aconteceu até ao final das obras em Junho de 1900.
Feita a vistoria à “Praça de Touros de Abrantes”, esta foi inaugurada no dia 8 de Julho de 1900 (fig. 8/9/10).O cavaleiro Fernando de Oliveira e “El Espadeirito”, foram os primeiros a pisar a arena da “Vila de Abrantes”.
Muitos foram os bandarilheiros, grupo de forcados, campinos a cavalo e cavaleiros a realizar gloriosas touradas nesta magnífica praça. Entre as muitas ali realizadas para obras de caridade, destaca-se a de 3 de Agosto de 1919 (fig. 11), patrocinada por um grupo de senhoras de Abrantes, cujos lucros se destinavam à Santa Casa da Misericórdia. Abrantes também tinha o seu cavaleiro: José de Almada Burguete (fig. 12) e o seu belo cavalo de “Alter-Real” que por diversas vezes foram ovacionados na praça de Abrantes.Também no redondel da Vila de Abrantes, o bandarilheiro Francisco Fróis (El Colecta) (fig. 13), actuou algumas vezes. Como curiosidade refira-se que Francisco Fróis, quando convidado pelo Alferes José Maria Guedes para actuar na praça de Abrantes, ficava hospedado na “república” dos oficiais de Artilharia Nº 8.Após muitos anos, a Praça de Touros de Abrantes havia de morrer sem glória. Numa das melhores praças da província, construída em alvenaria e concebida para 3500 lugares, deixou-se de ouvir o cornetim
Os aficionados que assistiram à sua inauguração e os irmãos Franco que a mandaram construir e a inauguraram, viram o lento ruir do seu tauródromo, consequência dum inconcebível abandono.
Já em ruína, as touradas deram lugar a garraiadas, torneios de hipismo e á prática de futebol pelos mais novos.
De particulares para as mãos do Estado o fim definitivo da Praça de Touros ocorreu no dia 8 de Novembro de 1955, com a compra à Santa Casa da Misericórdia dos terrenos para dar lugar à construção da Escola Industrial e Comercial de Abrantes, hoje Escola Secundária Dr. Solano de Abreu (ESSA). Da Praça de Touros de Abrantes restam hoje parte das suas bancadas. As mesmas servem para os alunos da ESSA assistirem a outros torneios que não a lides tauromáquicas (fig. 14/15). Referências sobre a prática taurina e “Praça de Touros de Abrantes”:
(a) “Joaquim Candeias da Silva”, Abrantes, A Vila e o seu termo no tempo dos Filipes (1580-1640), pg.459,460. “José Alberty”, fotografias dos irmãos João e António Franco e cartaz original da inauguração Praça de Touros de Abrantes, 8JUL1900. “Carlos Vieira Dias”, negativo ruínas da bancada Praça de Touros de Abrantes. “Jornal de Alferrarede”, cartaz original corrida a favor Santa Casa Misericórdia 3 de Agosto 1919, talão original de ingresso praça touros ano 1902, foto localização Praça de Touros de Abrantes e fotos da corrida realizada em 1896, na hoje “Praça da República”, fotos estas emprestadas pelo Sr Engenheiro Pães do Amaral, Conde de Alferrarede e fotocópia talão de ingresso Praça de Touros de Abrantes 5 de Agosto 1900. “Biblioteca Municipal António Botto”, fotos Praça de Touros de Abrantes. “Vida Ribatejana”, anos 1958 e 1960, fotos Francisco Fróis e José Almada Burguette, revistas emprestadas pelo assinante Virgílio Esparteiro. Jornal o “O ABRANTES”, nºs 328, 332, 333, 382, 388, 392, 393, 394, 396, 397, 398 (anos 1898 a 1900). “Jornal de Abrantes”, nºs 3, 8, 9, 10, 11, 13 (ano 1900). “Cronologia de Abrantes no Século XIX – Eduardo Campos”, cartaz da corrida de Agosto de 1877.